Em setembro resolvi encarar mais um desafio.
Como tinha adorado minha primeira experiência em corridas, claro que não perderia a oportunidade, sem saber que em breve isso se tornaria um vício.
Já que gosto de viajar e agora correr, por que então não unir os dois? A viagem foi excelente, uma dose de ansiedade, claro, mas foi tranquila. No caminho, acompanhado pelo amigo Alceu, paramos num restaurante bem legal, típico português, com pratos e decoração que valem a pena. Muita gente conhece o famoso lanche de pernil do Estadão. Gosto muito, mas o desse restaurante, vale muito a pena. Excelente! Claro que não vou sair de São Paulo, pegar estrada e pagar pedágios pra comer um lanche, mas certamente, passando por ali, será uma parada obrigatória. Pera lá, o post não é gastronômico.
Retomando…
Sorocaba, como diriam meus amigos mineiros, é logo ali. Chegamos rápido e logo encontramos o local da prova, Parque das Águas. Fizemos algumas fotos, retiramos o kit de participação e, como estava cedo, acompanhamos a montagem da estrutura e também do palco para o show de encerramento.
O tempo passando, ansiedade apertando. Melhor dar uma última calibrada nos pneus e começar o alongamento. Quando termino, convidam todos a se aproximarem da largada. Pra minha surpresa, desta vez, haveria outros deficientes participando, o que achei legal. Eram cegos, com seus guias, corredores que participam junto com eles, unidos por uma espécie de elástico e que vão guiando os atletas, seguindo o ritmo do cedo e nunca ditando, ou seja, o guia nunca deve passar a frente.
Logo que me viram na pista, um deles perguntou se eu iria correr com aquela cadeira, uma vez que é a que uso no meu dia a dia, sem equipamento algum, apenas eu e a cadeira. O segundo, ao se aproximar, olha pra mim, em seguida pra cadeira e pergunta: “Cara, você tomou água de penico?”. Com essa cadeira você não vai nem concluir a prova. Meu ânimo, por instantes, foi lá embaixo.. por alguns momentos senti-me um pouco humilhado. Mas como quem me conhece sabe como sou, isso fez foi me animar, dar mais pique e vontade de ir atrás e conquistar de volta meu orgulho, não ferido, mas instigado, incitado e intimado a mostrar a que veio.
Preparar… partiu!
A primeira vista o circuito parecia menos inclinado. Logo na saída, claro, fiquei para trás, comi poeira mesmo, afinal, as outras duas cadeiras são as de três rodas, específicas para corridas e eles são experientes. Essa era minha segunda prova, sem preparo, sem equipamento. Até segurança estava faltando, pois estava sem luvas e sem capacete, apenas munido de vontade e uma certa raiva.
Passado o primeiro quilômetro, já seguindo para o segundo, damos a volta na pista, passando pela primeira ponte e ai, finalmente, um trecho favorável, em descida. Para surpresa e susto do outro cadeirante, grito um sonoro “sai, sai… sai da frente”. Assustado, abre caminho e pergunta como cheguei até ali. Pena, não deu tempo de responder. O trecho seguinte é mais plano, neutro e por isso exige mais toque na cadeira. Minhas mãos já começam a cansar e meus ombros a doer, mas pego água, num dos postos de hidratação e sigo. O público, além de vibrar, passa uma energia muito boa, incentiva, acolhe.
Do outro lado do rio avistamos o pórtico de chegada, um breve alento se não viesse a mente a ideia de que ainda falta metade ou mais do percurso. A frente, um certo medo começa a crescer. Escuro. Um trecho sem iluminação obriga que reduza a velocidade. Não consigo avistar o chão e, quase sem referência, conto com a sorte e não me deparo com nenhum buraco. O menor deles, para o tipo de cadeira que uso, somado a velocidade, pode ser um belo tombo.
Passado o trecho sombrio, melhorou? Não! Segunda ponte. Superando ela e o cadeirante que me ultrapassou no trecho plano, posso tentar uma última acelerada, um sprint, e chegar com um bom tempo. Esforço, suor, mas não, é muito íngreme, tenho que ir devagar, nesse caso, estava quase parado. Inclinado e em reforma, areia da pista, fruto da reforma, combinação horrível mas, como dizem, quem tem amigo não morre pagão. Sinto o apoio dos amigos que passam e o incentivo mais que bem vindo do Alexandre, companheiro de academia. “Vamos, irmão, vamos que tá chegando”.
Valeu, Alê! No alto do viaduto, ultrapasso novamente o Nilton, estou em segundo. Agora é terminar o viaduto, descer e pegar a reta para a chegada. Descendo, o que é isso? Minha cadeira começa a trepidar. Além do asfalto, irregular, as rodas dianteiras começam a oscilar muito, com toda a razão, pois não foram feitas para isso. A frente, uma curva de 90 graus e, ao lado, lá vem o Nilton, que me ultrapassa facinho. Também, pudera, sua cadeira chega a 75km/h enquanto a minha, bom, deixa pra lá…
Feita a curva, agora é tirar ‘no braço’. Água, preciso de água. Vamos, falta pouco. Avisto o Nilton adiante, mas não dá, não o alcançarei mais, mas quero diminuir a diferença. Vai, acelera, queima porque agora é a hora! Os braços queimam, os ombros doem, mas chego, colado com ele. Apenas 11 segundos separam uma cadeira de corrida de uma cadeira convencional movida a muita vontade e uma boa golada de água servida num bom penico.
Tempo oficial Cronoserv (líquido)
Paulo Cesar Vieira: 00:22:15
Nilton Inacio: 00:25:53
Meu tempo: 00:26:04
Fotos by Alceu Rosa